justificação do valor científico
É a melhor exposição, no País, de uma das principais descontinuidades da Bacia Lusitaniana (corresponde a um hiato de 3 a 5 M.a., entre o Caloviano Superior e o Oxfordiano). Esta descontinuidade ocorre em toda a bacia, mas não só, nomeadamente na Bacia do Algarve e noutras bacias atlânticas. Pelo facto de ser generalizada na bacia, tem sido interpretada por vários autores como limite entre o segundo e terceiro episódio de rifting da bacia, mais recentemente outros autores consideram-na como uma descontinuidade de dimensão extra-bacinal, de origem tectónica e eustática.
Os afloramentos da Pedreira do Jaspe, para além de expor com excelente qualidade um dos tipos litológicos mais peculiares e característicos do País, põem ainda em evidência uma série de processos relacionados com a sua génese, nomeadamente: a) falhas normais conjugadas (formando um graben), afectando calcários do Caloviano, b) uma das falhas encontra-se selada pelos depósitos da Brecha da Arrábida (durante o Oxfordiano), c) exposição superficial e carsificação do espelho de falha, d) deposição em regime sub-aéreo, de carácter aluvial a fluvial.
Os afloramentos da Pedreira do Jaspe permitem o conhecimento rigoroso do campo de tensões (orientação e quantificação das tensões principais dedução do elipsóide de deformação finita através do método de Fry) associado à formação da Serra da Arrábida (compressão Alpina), numa fase constritiva da sua evolução.
É de visita incontornável para quem estuda a geodinâmica da MOI, tem relevância a nível internacional
Afloramentos de muito fácil acesso e excelente exposição. Pode “cruzar-se” com as frameworks “Registo jurássico na Bacia Lusitaniana”. e “As arribas (actuais e fósseis) do litoral português”.
Outros valores e sua justificação
Interesse Educativo: é um local onde se podem fazer estudos multidisciplinares nomeadamente nas áreas de Geologia Estrutural, Tectónica, Paleogeografia, Petrologia, Sedimentologia, Geomorfologia e Geologia Económica,
Interesse Cultural e Estético: a visita ao local possibilita a fruição de uma paisagem de rara beleza, observando-se para Sul a imensidão do oceano, do alto de uma arriba com mais de 200m de altura. Cerca de 3,5 km para Oeste, avista-se um relevo com uma forma arredondada, subitamente cortado pela arriba calcária mais elevada da Europa continental (Serra do Risco, +/- 350m), que foi apelidado pelo poeta Sebastião da Gama de “onda da Arrábida”. Tratando-se de uma antiga exploração de um tipo de rocha ornamental actualmente extinto, desde a criação do Parque Natural da Arrábida, que teve muita aplicações em importantes monumentos portugueses, é portanto um geossítio também relevante no que se refere Património Arqueológico Industrial.
Interesse Histórico: a unidade Brecha da Arrábida (por vezes com outras designações) constituiu um tema de investigação preferencial dos primeiros geólogos portugueses e estrangeiros a trabalhar em Portugal, o Alto do Jaspe (onde se localiza a actual pedreira), bem como outros afloramentos e pedreiras de Brecha da Arrábida, mereceram um particular destaque na cartografia da Serra da Arrábida, realizada em meados do séc. XIX, afirmando-se assim como um dos locais que testemunha o início do desenvolvimento da geologia portuguesa.