justificação do valor científico
É um afloramento situado no núcleo de uma das estruturas diapíricas salinas que afectam a sequência sedimentar da Bacia Lusitaniana. A unidade responsável por este processo é a dos pelitos evaporíticos da Formação de Dagorda de idade hetangiana.
Da sua composição faz parte não apenas halite (que em afloramentos superficiais não é detectável por lixiviação rápida) mas também gesso. Este mineral, antigamente extraído do local para fins económicos, encontra-se no local em diferentes hábitos cristalinos: granular ou sacaróide, fibroso e hialino. Sempre associados ao hábito sacaróide encontram-se pequenos cristais (em regra de dimensões inferiores a 10 mm, mas muito frequentes) de quartzo bipiramidado. Esta associação tem sido interpretada como correspondendo a quartzo de neoformação (hidrotermal) cristalizado a partir de um fluido rico de sulfato de cálcio e sílica provenientes da fusão/dissolução do gesso primário, misturado com fluidos ricos de sílica, formado aquando da ascensão de magma durante o ciclo magmático alcalino (Cretácico Superior). Com efeito a ocorrência desta associação encontra-se apenas na proximidade de um filão dolerítico que aflora na pedreira, a menos de 10m de distância.
Os leitos de gesso primário, de hábito fibroso, com espessura média de 1cm, apresentam microdobras de fluência, deformação associada à ascensão diapírica da unidade evaporítica.
Este filão, que se encontra pouco meteorizado e exibe excelente orla de reacção com o encaixante, é um dos muitos cartografados no interior da estrutura diapírica. Este facto, juntamente com outros patentes em diferentes diapiros da bacia, é mais um dos argumentos para que a formação destas estruturas na Bacia Lusitaniana seja de idade Cretácica terminal e não do Jurássico Superior, o mecanismo despoletador do diapirismo e, consequentemente, a sua idade é uma questão científica controversa que permanece ainda em aberto.
O afloramento e, a outra escala, a cartografia com as descontinuidades regionais, contribuem para associar o magmatismo à diminuição da viscosidade e da densidade dos evaporitos da Formação de Dagorda, favorecendo a sua mobilização e ascensão, e não à distensão do Jurássico Superior.
Deste afloramento avista-se, a menos de 200 m de distância para SW, um relevo formado por calcários do Jurássico que se destaca no meio do vale tifónico (designação original de P. Choffat) que corresponderá a um xenólito da cúpula do doma salino original colapsado no interior dos evaporitos, menos densos e mais dúcteis. É neste relevo que se encontra construído o castelo de Sesimbra.
Acesso muito fácil e exposição excelente, embora com o tempo vá ficando ocupado pela vegetação (canavial que não é autóctone).
Outros valores e sua justificação
Grande valor educativo pela variedade de ocorrências mineralógicas e pela associação que se pode efectuar com a ocorrência local do filão.
Sugere-se que se associe o Castelo de Sesimbra a este afloramento, como ponto de observação complementar (“afloramento acessório”), pois a vista é esteticamente excepcional e dele se pode avistar toda a morfologia circundante dos vales tifónicos que envolvem o xenólito.