justificação do valor científico
Sequência de cortes, em unidades detríticas do Jurássico Superior (espessura total aproximada de 700 m), localizadas no flanco normal do anticlinal de S. Luís que mostra uma reestruturação importante na Bacia Lusitaniana, associada ao terceiro episódio de rifting.
Estas unidades detríticas correspondem a leques aluviais, que são mais espessos e grosseiros a Este (Serra de Gaiteiros que termina na Falha de Setúbal-Pinhal Novo) e vão diminuindo progressivamente de espessura e a textura dos conglomerados modifica-se (variação espacial): os clastos vão tendo menores dimensões e sendo menos frequentes e mais arredondados em direcção a Oeste, o centro da bacia.
No conjunto, os níveis conglomeráticos (variação temporal) apresentam uma modificação composição gradual, desde os conglomerados da base exclusivamente carbonatados, até aos do topo da sequência, esclusivamente siliciclásticos. Na sequência de afloramentos pode ainda observar-se uma grande variedade de estruturas sedimentares (estratificação oblíqua, truncaturas, estruturas de canais, grano-selecção, imbricação de clastos, entre outras).
As variações espaciais e temporais dos conglomerados, bem como a sua ocorrência brusca, permitiram um grande avanço no conhecimento da Bacia Lusitaniana em especial, mas também sobre as sequências de depósitos associados a bordos activos de bacias. Esta sequência de cortes testemunha:
a) o ínico da terceira fase de rfiting não no Oxfordiano (como era tradicionalmente considerado - vide geossítio da Brecha da Arrábida) mas no Kimeridgiano,
b) a formação rápida de um relevo estrutural a Oeste (provavelmente limitado pela Falha de Setúbal-Pinhal Novo),
c) a sua progressiva exumação (modificação progressiva da composição dos acarreios, inicialmente clásticos carbonatados provenientes da porção bacia ante-Jurássico Superior que terá ficado no hanging-wall),
d) a modificação geométrica da Bacia Lusitaniana, de half-graben durante a 2ª fase de rifting para graben aproximadamente simétrico na 3ª (a estrutura equivalente no bordo Oeste da bacia seria o horst da Berlenga,
e) a recorrência da reactivação da referida falha ao longo do Jurássico Superior, demonstrada pelos sucessivos influxos clásticos grosseiros no interior da bacia.
A demonstração da evolução tectónica e paleogeográfica da bacia em contexto de bordo activo é único no País e muito raro de observar noutros locais do Mundo. O equivalente actual encontrar-se-á no Rift Valley do Este africano.
Este geossítio pode “cruzar-se” com a framework “Registo jurássico na Bacia Lusitaniana”.
Outros valores e sua justificação
Valor cénico relevante. Em especial no primeiro corte (mais a SE) tem-se uma vista ímpar, de um ângulo raro, sobre a cidade de Setúbal, o estuário do Sado e a península de Tróia. Para SW observa-se a Serra de S. Luís e parte do Vale da Rasca, pouco “tocado” pelo Homem e onde se desenvolve a sequência de cortes. Observa-se ainda, a N, o relevo de costeiras de S. Lourenço (vide geossítio “Relevos estruturais da cadeia da Arrábida”) e, nas últimas paragens, o relevo da “escama” de Palmela.