justificação do valor científico
Framework Registo Jurássico na Bacia Lusitaniana (Luís Vítor Duarte):
No contexto do Jurássico Inferior de Portugal, a península de Peniche representa o local mais conhecido além-fronteiras (Duarte, 2004). Para além da vasta lista de trabalhos consagrados ao seu estudo, nas diferentes vertentes da geologia sedimentar (estratigrafia, paleontologia, sedimentologia, etc…), a importância de Peniche deve-se à recente proposta de definição no lugar de Ponta do Trovão, do GSSP (estratotipo) do Toarciano (Elmi et al., 2005, Elmi, 2006, Rocha, 2007, entre outros), junto da Subcomissão Internacional do Jurássico da Comissão Internacional de Estratigrafia. Este processo, iniciado há cerca de uma década (Elmi et al., 1996), tem potenciado nos últimos anos um incremento na investigação científica (Duarte, 2005, Elmi et al., 2005, Rocha, 2007). Paralelamente à importância internacional da proposta de estratotipo do limite Pliensbaquiano/Toarciano, estudos recentes efectuados em Peniche testemunham a importância deste local, à escala global, na explicação do evento oceânico anóxico do Toarciano inferior (Hesselbo et al., 2007, Suan et al., 2008a,b, Mattioli et al., 2008).
Independentemente dos factos acima evidenciados, de enorme importância à escala internacional, a série estratigráfica jurássica de Peniche constitui a secção mais contínua e a mais completa do Jurássico Inferior em Portugal, abrangendo grande parte do Sinemuriano até à base do Jurássico médio (Mouterde, 1955, Duarte & Soares, 2002, Duarte et al., 2004, Oliveira et al., 2006, Duarte, 2007, Oliveira et al., 2007). A série litológica abrange o intervalo contido entre o Sinemuriano inferior, composto por calcários, calcários dolomíticos e bioclásticos, até à base do Jurássico médio (Aaleniano), materializada por uma sucessão de calcários gresosos e oolíticos (Wright; Wilson, 1984). As marcantes diferenças litológicas entre as diversas unidades, assim como a óptima exposição, levou à definição em Peniche da localidade-tipo de algumas formações, nomeadamente: as Formações de Vale das Fontes, de Lemede e do Cabo Carvoeiro (Duarte; Soares, 2002). O bom controlo biostratigráfico é dado por estudos de amonóides (Phelps, 1985, Dommergues, 1987, entre outros) e nanofósseis calcários (Perilli; Duarte, 2006, Oliveira et al., 2007). A relevância científica do registo jurássico é igualmente comprovada pelo elevado número de teses de doutoramento (Mailliot, 2006, Oliveira, 2007, Suan, 2008) e de mestrado (Pinto, 2008), que se têm realizado nos últimos três anos em Peniche.
Para além destas valências, a natureza fez ainda convergir na Península de Peniche outros episódios e registos geológicos de extraordinária beleza e de grande interesse científico e pedagógico. Desde registos de natureza vulcânica (Brecha da Papôa), aos belos fenómenos de carsificação, passando pelos efeitos singulares da dinâmica litoral recente, onde o tômbolo de Peniche assume um papel relevante no contexto de toda a zona costeira portuguesa (Duarte, 2005, Duarte et al., 2006, Rilo, 2009).
No contexto da Bacia Lusitânica, o registo margo-calcário da Formação de Vale das Fontes em Peniche é hoje um marco decisivo na investigação petrolífera em Portugal (Oliveira et al., 2006).
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Framework Sistemas cársicos (José Crispim):
Plataforma calcária lapiasada, parcialmente fossilizada e parcialmente exumada pelo mar, associada a grutas habitadas pelo Homem.
Outros valores e sua justificação
O Jurássico de Peniche tem sido um marco decisivo em termos educativos no domínio da geologia sedimentar. O seu elevado valor científico, aliado à enorme beleza paisagística e às óptimas condições de acesso aos locais de observação, têm potenciado a realização de muitas actividades de campo. Desde a formação de professores e de alunos do ensino básico e secundário, actividades académicas práticas de disciplinas de licenciatura e de pós-graduação, excursões geológicas de congressos nacionais e internacionais, até actividades de divulgação científica para o cidadão comum (ver, por exemplo: Duarte, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006a, 2006b, 2009, Henriques et al., 2005, Duarte et al., 2006, Duarte; Oliveira, 2008), como é exemplo, a actividade “Geologia à beira-mar: Histórias geológicas de Peniche”, inserida no Programa “Geologia no Verão”, patrocinada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.
O elevado potencial científico e educativo deste local tem sido amplamente difundido junto de diversas comunidades, através de um número variadíssimo de realizações. Desde 2002, após a realização do VI Congresso Internacional do Jurássico em Palermo (Itália) (Duarte, 2002), que têm sido publicados diversos artigos (acima citados), alguns em revistas internacionais de referência (Duarte, 2004, Henriques, 2004, Brilha et al., 2005), tipificando o valor do património geológico de Peniche. Em trabalho recente, Rilo (2009) apresenta uma análise sistemática e completa do valor patrimonial da península de Peniche, onde se insere o enchimento jurássico, com vista ao ordenamento do território do concelho de Peniche.
O elevado potencial científico e educativo presente na península de Peniche foi determinante para que, em 2007, a Câmara Municipal de Peniche declarasse o lugar de Ponta do Trovão como Imóvel de Interesse Municipal.
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