justificação do valor científico
Framework Transversal à Zona de Cizalhamento Varisco em Portugal (Rui Dias):
Exemplo da sedimentação marinha do Carbónico superior e afloramento chave para a compreensão da relação entre os ciclos de Wilson Varisco e Alpino.
Framework Carbónico marinho da Zona Sul Portuguesa (José Tomás de Oliveira):
Neste pequeno promontório da costa atlântica, situado cerca de 6 km a NO de Sagres, Algarve, observam-se os afloramentos mais meridionais dos turbiditos do Grupo do Flysch do Baixo Alentejo, assim como dos Grés de Silves. As características geológicas mais marcantes deste magnífico afloramento, verdadeiro geomonumento da Cadeia Varisca Europeia, são as seguintes:
a – Existência de uma superfície aplanada , no topo da arriba, onde se encontram preservadas cascalheiras correspondentes a uma praia levantada do Quaternário (nível dos 30 m
b – A Formação do Grés de Silves, do Triássico ( 250 a 205 Ma), datada por uma associação fossilífera pobre, com ossos de peixes estegocéfalos, bivalves ( euesterídeos) e polens. A unidade é constituída por bancadas de arenitos e siltitos avermelhados, por vezes com intercalações pouco espessas de conglomerados As bancadas areníticas apresentam-se maciças ou com estratificação cruzada de larga escala e os siltitos podem apresentar laminação cruzada associada a riples de corrente. As bancadas expostas na falésia correspondem à parte inferior da unidade e têm espessura total da ordem dos 8m. A tonalidade avermelhada dos sedimentos (indicando a presença de óxidos de ferro) e as estruturas sedimentares sugerem deposição na parte intermédia de leques aluviais desenvolvidos em região continental com clima árido (Palain, 1976).
c – Discordância angular dos Grés de Silves sobre os turbiditos da Formação da Brejeira, a unidade mais recente do Grupo do Flysch do Baixo Alentejo. Esta discordância abarca o período de tempo correspondente a 55 Ma, durante o qual se deu a elevação e erosão de parte significativa da Cadeia Orogénica Varisca, originada durante o Carbónico Superior, admitindo-se terem sido arrasados entre 3 a 5 Kms da crosta continental.
d – Formação da Brejeira, com idade compreendida entre o Baskiriano Médio (320 Ma) e o Moscoviano Superior (305 Ma), idade esta estabelecida com base em associações fossilíferas de amonóides e miosporos.( Oliveira et al., 1979, Korn, 1997,Pereira, 1999) É constituída por espessa ( > 1000m) sequência turbidítica formada por alternâncias de xistos e grauvaques. As bancadas de grauvaques têm espessuras de ordem centimétrica a decimétrica e aparecem em relevo devido à sua maior resistência à erosão. Observação cuidada destas bancadas mostra que no seu interior apresentam granoselecção, laminação paralela e cruzada (ritmos de Bouma), na base figuras de carga, de arraste e turbilhonares (flutes), e no topo marcas de corrente. A unida apresenta-se afectada pela Orogenia Varisca, caracterizada principalmente por dobras subverticais com clivagem xistenta associada, bem visíveis ao longo da falésia. São ainda visíveis pequenas falhas inversas, com topo (aparente) para Norte, afectando as bancadas turbidíticas. Estas falhas desaparecem na discordância angular.
e – No local está ainda bem exposta actual da plataforma de abrasão marinha, predominantemente rochosa devido à forte acção erosiva do mar.
Framework Triásico Superior do SW Ibérico (Nuno Pimentel):
Discordância entre rochas paleozóicas metamorfizadas e deformadas e arenitos triásicos. Esta discordância angular materializa milhões de anos de processos geodinâmicos internos (afundamento, metamorfismo e dobramento, seguidos de gradual soerguimento) e externos (denudação e erosão dos relevos soerguidos).
Trata-se do melhor local, em Portugal, para observação desta discordância com elevado valor científico e didáctico. Relevância internacional. Excelente visibilidade e facilidade de acesso por carro.
CHOFFAT, P. (1887) - Recherches sur les terrains sécondaires au Sud du Sado. Com. Trab. Serv. Geol.Port., 1: pp. 222-312.
OLIVEIRA, J. T. (1984) - Notícia Explicativa da Folha 7 da Carta Geológica de Portugal, escala 1/200 000. Serv. Geol. Port., 77 pp..
PALAIN, C. (1976) - Une série détritique terrigéne, les Grés de Silves: Trias et Lias inférieur du Portugal. Mem Serv. Geol. Port. , N.S. 25, 363 pp..
PEREIRA, A. R. P. (1991) - A Plataforma Litoral do Alentejo e Algarve ocidental, estudo de geomorfologia. Diss. Doutoram, Univ. de Lisboa,
PIMENTEL, N. L. (1998) - Considerações sedimentológicas acerca do Triásico de Santiago do Cacém. Com. Inst. Geol. Min. 84 (1), pp. A38-A40.
PIMENTEL, N.L. (1999) – A Praia do Tellheiro, propostas para a valorização de um Geomonumento. Actas I Simpósio sobre o Património Geológico, 5 pp. (s.numer.), I.G.M., Lisboa.
PIMENTEL, N.L.V. (2005) – O Triásico – as primeiras paisagens da bacia Lusitânica. Resumos do Workshop “Bacia Lusitânica”, NEGFCUL, pp. 9-10.
ROCHA, R. (1976) - Estudo estratigráfico e paleontológico do Jurássico do Algarve ocidental. Ciências da Terra, vol. 2, 178 pp.. Univ. Nova de Lisboa.
TERRINHA, P. A. G. (1998) - Structural geology and tectonic evolution of the Algarve basin, south Portugal. PhD thesis, Univ. of London, 425 pp.
Framework Tectono-estratigrafia Meso-Cenozóica do Algarve (Mário Cachão, Pedro Terrinha, Delminda Moura):
The Sagres area is the onshore European piece of continental crust that was located nearest to the America-Eurasia-Africa intra-continental paleo-triple junction, the evolution of which controlled the earlier stages of tectonics and paleogeography of this area.
The stratigraphic and paleontological data dealing with ammonite taxa (Rocha, 1976) indicate that the Sagres area constituted a high-block, a sort of promontory, which separated the western Portuguese Margin from the southern Portuguese Margin in the Jurassic. Both Mesozoic and Cenozoic sedimentary sequences are much thinner in this area than in any other part of the basin.
The stratigraphy of the Sagres area comprises Jurassic outliers, which are cut by a wave platform, probably of Pliocene age, lying approximately 50m above the present day sea level. Locally the vertical cliffs and uplifted platform are covered by Late Pleistocene consolidated dunes. The Pliocene wave cut platform is deformed into a broad uplifted anticline, partially preserved by a hard-ground and a laterite type deposit, approximately 120 m above sea level.
Consolidated dunes, probably contemporaneous with the Late Quaternary glacial events, are still preserved on the coast at Praia do Telheiro, Armação Nova and Praia da Mareta.
This is the area in the whole Algarve Basin where: i) the Lower Jurassic is better exposed and preserved, ii) the chrono-stratigraphic relationships of the Jurassic units are better understood, iii) the Triassic to Upper Jurassic age extensional structures can be observed and dated using ammonite biozone chrono-stratigraphy iv) the clearest evidences of compressive episodes and faunal isolation during the Mesozoic rifting are present (Terrinha et al., 2002) v) the late Cretaceous through Paleogene tectonic inversion was less intense and vi) the Pliocene to Quaternary morphological and stratigraphic markers show clear evidences of Recent relative sea level and/or crustal vertical movements.
Praia do Telheiro probably shows the best outcrop to observe the Triassic unconformity in Iberia, since it is one of the few places where it is exposed along a coastal cliff. Late Triassic-Hettangian, well bedded, planar red and yellow sandstones and pelites dipping 20°SE (equivalent to the New Red Sandstones of the UK) rest on top of upright chevron folds in black shales and greywackes of Carboniferous age, deformed during the Variscan orogeny. According to Palain (1976), Rocha (1976) and Manuppella (1992) the basal sandstone unit is of Late Triassic age, whilst the pelites are Hettangian.
The Mesozoic strata are truncated by a wave cut surface of Quaternary age, covered by various generations of eolian and coastal deposits with different degrees of consolidation. These deposits preserve different generations of coastal scarps and wave cut surfaces produced by the Quaternary sea level oscillations Good examples of syn-sedimentary and deformation structures can be observed at this outcrop in the Triassic-Hettangian sediments, including: i) metre-scale differential compaction wedges, e.g. controlled by harden Carboniferous grewacke beds, ii) detaching normal faults, iii) growth faults and iv) onlap surfaces.
PALAIN, C. (1976) - Une série détritique terrigéne, les Grés de Silves: Trias et Lias Inférieur du Portugal, Ser. Geol. Portugal, Memória 25, 377 pp..
ROCHA, R. (1976) – Estudo Estratigráfico e Paleontológic do Jurássico do Algarve Ocidental. Ciências da Terra, 2: 178 pp.
MANUPPELLA, G. (1988) - Litoestratigrafia e tectónica da Bacia Algarvia, Geonovas, 10: 67 – 71.
Outros valores e sua justificação
Local de acesso que apresenta dificuldades, mesmo durante a maré baixa. Toda a região tem interesse turístico, pela variedade de cores que as rochas evidenciam, pela bela falésia instalada nos calcários do Jurássico a sul da Ponta do Telheiro e, ainda, pela praia existente.