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Zona de mistura de magmas em Penalva do Castelo

justificação do valor científico

Os granitos porfiróides biotíticos do maciço de Cota-Viseu são um exemplo da importância da actividade magmática tardi-varisca na Zona Centro-Ibérica. Afloram nas regiões de Viseu, Cota, Mangualde e Fornos de Algodres, onde constituem manchas de forma irregular, frequentemente marginadas por pequenos corpos de rochas ígneas básicas e intermédias.
Os granitóides do maciço de Cota-Viseu apresentam megacristais de feldspato, com comprimento máximo de cerca de 8 cm, numa matriz de granularidade média a grosseira, composta por quartzo + plagioclase + feldspato potássico + biotite + apatite + opacos + zircão + monazite. Os encraves microgranulares máficos, de composição dominantemente tonalítica, estão presentes em quase todos os afloramentos. Contudo, a densidade destes encraves tende a aumentar significativamente na proximidade dos contactos com as rochas ígneas básicas e intermédias, sugerindo a intervenção de processos de mistura de magmas (“mixing/mingling”) na petrogénese deste grupo de granitóides (Azevedo; Nolan, 1998, Azevedo et al., 2005, Azevedo; Valle Aguado, 2006).
Os afloramentos em causa estão localizados nas proximidades do contacto entre o granito porfiróide biotítico de Cota-Viseu e os monzodioritos quártzicos com anfíbola de Trancozelos. Trata-se de uma verdadeira zona de mistura entre as duas unidades, onde se podem reconhecer os efeitos de diferentes graus de interacção física e/ou química entre magmas porfiróides e líquidos mais básicos (Fig. 1).
A presença de abundantes encraves microgranulares máficos com formas elipsoidais, frequentemente irregulares e difusas, dimensões muito variadas (de centimétricas a decamétricas) e contactos lobados com o granito hospedeiro sugere que os glóbulos de magma máfico se encontravam ainda num estado plástico quando foram aprisionados pelos líquidos graníticos.
Embora os seus limites sejam geralmente nítidos, alguns encraves estão marginados por orlas de reacção marcadas por concentrações de biotite. Noutros casos, incluem total ou parcialmente megacristais de feldspato morfologicamente indistinguíveis dos que ocorrem no granito porfiróide envolvente, indiciando uma forte interacção mecânica entre magmas com composições distintas (“mingling”).
Por outro lado, a grande variabilidade textural e mineralógica que se observa no granito porfiróide hospedeiro parece reflectir uma maior eficiência dos processos de interacção química (“mixing”) entre os dois tipos de magma, com consequente formação de líquidos híbridos relativamente homogéneos. A complexa transição entre os diferentes termos desta sequência é interpretada como o resultado de graus variáveis de interacção física e química entre os pólos básico e ácido da mistura. Toda a zona de mistura é atravessada por filões aplíticos e pegmatíticos tardios que cortam as unidades expostas.

Referências:
Azevedo, M.R.; Nolan, J. (1998). Hercynian late-post-tectonic granitic rocks from the Fornos de Algodres area (Northern Central Portugal). Lithos 44: 1-20.
Azevedo, M.R.; Valle Aguado, B. (2006). Origem e instalação de granitóides variscos na Zona Centro-Ibérica. In: Geologia de Portugal no contexto da Ibéria (Dias, R., Araújo, A., Terrinha, P. e Kullberg, C. Editores). Univ. de Évora (ISBN: 972-778-094-6), p. 107-121.
Azevedo, M.R., Valle Aguado, B., Nolan, J., Martins, M. & Medina, J. (2005). Origin and emplacement of syn-orogenic Variscan granitoids in Iberia: the Beiras massif. Journal of the Virtual Explorer, Electronic Edition, ISSN 1441-8142, Volume 19, Paper 7.

Outros valores e sua justificação

Elevado valor educativo a nível universitário, ilustrando em afloramentos de qualidade um exemplo de processos de mistura de magmas (“mixing/mingling”).